O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, reafirmou a necessidade de construir uma maioria política progressista no país como condição para promover as transformações necessárias e implantar um desenvolvimento estratégico nacional.
“O problema brasileiro hoje é essencialmente político. Enquanto não tivermos uma nova maioria política progressista, não seremos capazes de desenvolver adequadamente esse país. Por isso, na nossa autorreforma, e ela parte desse ponto, pregamos a refundação do sistema político em novas bases”, afirmou o socialista, durante sua participação na segunda live da série “A Revolução Brasileira no Século XXI”, nesta quarta-feira (31).
O tema desta edição, que acontece no âmbito da autorreforma do PSB, foi “A nova economia do projetamento”, e teve como convidado o pesquisador e doutor em geografia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Elias Jabbour.
A série de debates tem como base o livro “A Revolução Brasileira”, do político e historiador Caio Prado Júnior, que define a revolução como “um processo histórico de transformações estruturais nos planos econômico, social e político, e não como um assalto violento ao poder, sendo a expressão da realidade concreta de cada país e, portanto, impossível de replicar ou copiar modelos”. A série é promovida pelo Instituto Pensar e o Socialismo Criativo.
Sobre o impacto da obra e das teorias de Caio Prado Júnior, Jabbour o destacou como a grande figura do marxismo brasileiro no século XX. “Acho que ele é a figura que nos entrega uma possibilidade de observar como se comportam as elites do Brasil e, a partir delas, traçar nossas estratégias”, disse. Para Jabbour, o historiador revela a capacidade das elites brasileiras de fazer com que as nossas transições sejam lentas, impedindo as transformações históricas no país.
Participaram da live o presidente do Instituto Pensar e coordenador do portal Socialismo Criativo, Domingos Leonelli e, como mediador, o conselheiro editorial do site Socialismo Criativo James Lewis.
Para Jabbour, a atualidade da obra de Caio Prado Júnior tem sentido na medida em que recaem sobre os ombros de PSB, PDT, PCdoB, PSOL, PT e outras forças de esquerda algumas tarefas históricas que poderiam e deveriam caber a uma chamada “burguesia nacional”, que não existe no Brasil hoje.
“Como paralelo histórico, aonde as burguesias nacionais foram incapazes de atuar, os socialistas e os comunistas foram obrigados a tomar para si essas tarefas. A revolução brasileira, sob o meu ponto de vista, passa necessariamente por um processo de reindustrialização, com a formação de um novo proletariado urbano que a direita brasileira tem se mostrado incapaz de tocar adiante, e não interessa mais a ela um processo de modernização do Brasil aos moldes industrializantes, baseados em planejamento de longo prazo”, afirmou Jabbour.
Na visão do pesquisador, “o socialismo surge, hoje, como um contraponto ao capitalismo ao transformar a razão em instrumento de governo”. Como exemplo de uma revolução socialista exitosa, ele cita a China.
“É uma sociedade guiada pela Ciência, ao contrário do capitalismo mundial que é pura irracionalidade. E eu acho que essa é a atual forma histórica que o socialismo se apresenta. O projetamento é a prática em que nós pegamos tudo de conhecimento humano acumulado ao longo dos séculos e entregamos a economistas e engenheiros para eles serem agentes da sociedade, e não agentes do capital. E assim superarmos os grandes problemas que afligem a sociedade”, afirmou.
Ele defende ainda que o Brasil, através do projetamento, crie condições de receber investimentos da China, que se tornou uma grande exportadora de bens públicos como hospitais, transportes, portos e estradas, por exemplo. “O que nós podemos fazer é criar condições de receber esse tipo de investimento e jogar geopoliticamente pra cima deles: vocês vão recapear x Km de estrada, mas queremos transferência de know-how. Seria um acordo muito semelhante ao que a China fechou com o Irã”, referiu-se a um acordo de cooperação de 25 anos e investimento chinês de US$ 400 bilhões, sobretudo na área de infraestrutura, comércio e transportes.
Carlos Siqueira concordou com a ideia de que o socialismo é um projeto em construção e que nisto reside a criatividade de Caio Prado Júnior. Para ele, também é nítida essa incapacidade da elite brasileira de, num país de imensas potencialidades como o Brasil, ainda ser um país altamente conveniente, que produz tudo o que os países industriais precisam e compram tudo o que eles querem vender.
“Temos todas as condições de equilibrar esse jogo, fazendo com que o país desenvolva um outro tipo de desenvolvimento, industrializando os produtos primários que hoje são 100% exportados e criando milhões de empregos, gerando renda. Além de um projeto de Amazônia 4.0, que defendemos no nosso projeto de autorreforma”, citou Siqueira, explicando que a intenção é transformar esse bioma brasileiro mobilizando o conhecimento nacional, levando brasileiros para conhecerem a biodiversidade e a biotecnologia, e mobilizando também os empresários e o capital para investir e transformar o conhecimento em indústria.
Segundo Domingos Leonelli, a nova economia de projetamento é o nome científico do socialismo criativo. “Baseado nisso, o socialismo criativo corresponde a uma nova economia do projetamento que implica em forte planejamento e comporta as várias formas de propriedades públicas e privadas”.