Os governadores do Espírito Santo e de Pernambuco, Renato Casagrande e Paulo Câmara, respectivamente, e o líder do PSB na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon, criticaram a decisão de Bolsonaro de cancelar o protocolo de intenções assinado nesta terça-feira, 20, pelo Ministério da Saúde para a aquisição de 46 milhões de vacinas da farmacêutica chinesa Sinovac.
Para os socialistas, ao cancelar a compra do imunizante, Bolsonaro faz cálculo político e desdenha da saúde de milhões de brasileiros, quando suas decisões deveriam se pautar pela ciência. A distribuição da Coronavac, com produção pelo Instituto Butatan, de São Paulo, é vista pelo presidente como ativo político de seu provável adversário na eleição presidencial de 2022, o governador do Estado, João Doria.
Além disso, o alinhamento do Palácio do Planalto aos Estados Unidos impõe reservas à China, país desenvolvedor da Coronavac.
Prejuízos à população
Em suas redes sociais, Câmara escreveu que “a influência de qualquer ideologia em temas fundamentais, como a saúde, só prejudica a população”. “Defendemos que todas as vacinas consideradas seguras, avalizadas pelas autoridades, sejam disponibilizadas ao povo brasileiro. É preciso dar este passo na superação da Covid-19”.
“Temos que apelar ao presidente para que a gente tenha equilíbrio, racionalidade, empatia com quem pode pegar esse vírus. Um apelo mesmo para manter o que falamos ontem. É importante manter a decisão republicana de ontem e deixar de lado questões eleitorais, ideológicas. E torcer para que o que disse Bolsonaro não seja levado ao pé da letra”, disse Casagrande.
“Bolsonaro despreza a vida dos brasileiros. Suas ações misturam cálculo político rasteiro e desdém pela saúde pública. Insistiu na cloroquina, sem comprovação científica. Agora se recusa a considerar vacina desenvolvida sob protocolos científicos. De olho apenas em 2022, Bolsonaro mistura dados fantasiosos e medidas atrapalhadas para encobrir a pior reação governamental do planeta à pandemia”, criticou Molon.
Mortes e decisões políticas
O Brasil atingiu a marca de 154.888 mortes por coronavírus, o que o coloca na quarta posição de país com a maior proporção de mortes no mundo. Com mais de 5,4 milhões de registros do novo coronavírus desde o início da pandemia, o país é o terceiro com maior número de casos registrados. Junto com Estados Unidos e Índia, concentra mais da metade dos casos no mundo.
Diante da trágica evolução da pandemia no país, a expectativa era de que a aquisição ocorresse até o fim do ano, após o imunizante obter registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que a vacinação começasse já em janeiro. O ministério informou que investiria R$ 1,9 bilhão na compra. O recurso extra seria liberado por medida provisória.
Mas a falta de direcionamento técnico se evidenciou nas idas e vindas do governo Bolsonaro em mais este episódio. Na semana passada, o governo federal anunciou um cronograma de vacinação que não contemplava a Coronavac, a mais segura em estágio final produzida no Brasil.
Após pressão dos governadores e reação do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o ministro Pazuello se reuniu com os chefes dos executivos estaduais e anunciou o protocolo de intenções para a aquisição da vacina. A decisão foi comemorada por gestores de vários campos políticos.
Na terça-feira, o Ministério da Saúde assinou um protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses da Coronavac, cumprindo acordo fechado durante reunião do ministro Pazuello com governadores.
O esforço de governadores e secretários de Saúde, no entanto, esbarrou na intransigência presidencial. Ao se negar a autorizar o uso da vacina chinesa, Bolsonaro não surpreende, apenas segue sua lógica de negação da ciência e desprezo pela vida de milhões de brasileiros.
Assessoria de Comunicação/PSB nacional