Autores: Deputado federal Tadeu Alencar (PSB-PE) e Fernando Mousinho, sociólogo e pós-graduado em Planejamento Energético para Desenvolvimento Sustentável pela UnB
A proposta que retira de Paulo Freire o título de patrono da educação brasileira está em plena consonância que a sanha antidemocrática adotada pelo governo de Michel Temer contra a soberania nacional.
As acusações que tentam desqualificar a obra do educador brasileiro superam os limites do absurdo que o Golpe de 1964 não alcançou, que o taxou de “subversivo, traidor de cristo e do povo brasileiro”. Paulo Freire, tanto como educador como intelectual, tem consagrado respeito no Brasil e no exterior pelo conjunto de sua obra. “Seu legado é uma forma de educação que se aplica a todos os setores da sociedade; sua obra tem uma dimensão pedagógica a favor dos excluídos e segmentos pobres da população”, afirma de cátedra Célio Cunha, professor da Universidade Católica de Brasília.
Se fossemos sintetizar o educador, certamente lembraríamos que na pequena praça do bairro de Västertop, em Estocolmo, Paulo Freire está ao lado de Pablo Neruda, Angela Davis, Mao Tsé-tung, Sara Lidman, Elise Ottosson-Jense e Georg Borgström. A obra presta homenagem a algumas das principais personagens do século XX.
O projeto que redundou na condecoração de Paulo Freire é de autoria da deputada Luiza Erundina, à época pertencente aos quadros do Partido Socialista Brasileiro-PSB. Uma parlamentar de trajetória íntegra que dignifica a política e eleva a educação brasileira com essa iniciativa. “isso é fruto da Era Temer, que promove a ascensão de forças conservadoras de direita e, com elas, o atraso e o conservadorismo”, arremata a deputada.
Paulo Freire, reconhecido como “educador popular”, é também o cidadão brasileiro mais condecorado do País. Seu livro mais importante, Pedagogia do Oprimido, amplamente adotado nas faculdades norte-americanas, foi traduzido em mais de 20 idiomas e, apenas em inglês, já foram publicados mais de 500 mil exemplares. Seus livros são comercializados em 80 países, o que nos leva a afirmar que ele é o educador brasileiro mais lido no mundo.
Freire dá nome a diversas instituições acadêmicas em países como Finlândia, Inglaterra, Estados Unidos, África do Sul e Espanha, além de sua obra ser base de referência obrigatória para várias gerações de educadores.
A internacionalização do pensamento e da ação pedagógica de Paulo Freire deu-se por iniciativa do cardeal de Recife, Dom Helder Câmara, que na década de 1970 a apresentou nos Estados Unidos e que, em seguida, expande-se pela América Latina.
No Brasil, Paulo Freire está presente na memória nacional. Cidadão honorário de nove cidades, professor emérito de várias universidades, nome de ruas e de institutos de ensino e pesquisa no Brasil inteiro. Foi secretário de Educação da cidade de São Paulo durante a gestão da prefeita Luíza Erundina (1989-1992).
No entanto, não podemos deixar de ressaltar que foi nos idos dos anos de 1960, no Movimento de Cultura Popular (MCP), criado na administração do prefeito de Recife, Miguel Arraes, que a pedagogia paulofreriana deu seus primeiros passos. “O MCP definia-se como órgão técnico, rigorosamente apolítico, cuja concepção de educação, no entanto, incluía, consoante com a aplicação do método Paulo Freire, a capacidade aquisitiva de ideias sociais e políticas.”
Por conseguinte, a obra de Paulo Freire está diretamente associada à concepção de educação popular adotada por Miguel Arraes: “Como prefeito de Recife, tive a oportunidade de, juntamente com homens de todas as tendências religiosas e políticas, iniciar um Movimento que iria levar ao povo uma nova atitude, que não era aquela de intelectuais encastelados e dos estudantes que estudam para fora do Brasil e não para dentro de nossa realidade, nem dos que se consideram donos do povo, mas daqueles que aprendem com o povo o que os doutores não sabem: a ciência do sofrimento da vida”.
Estamos, portanto, diante de mais uma tentativa de golpear a soberania nacional, não bastasse o retrocesso nas regras básicas da dignidade humana, a venda de terras para estrangeiros, o desmonte da Petrobras e a entrega do pré-sal e da nossa biodiversidade a estrangeiros, agora querem, pela segunda vez, cassar a memória de um brasileiro dos mais ilustres, cuja contribuição para educação e distintas áreas do conhecimento engrandece o Brasil e é referência em diferentes países do mundo.