O presidente Nacional do PSB, Carlos Siqueira, criticou nesta segunda-feira (29) a condução da política externa do país sob o comando do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que entregou o cargo no final da manhã. No Twitter, Siqueira escreveu “já vai muito tarde”.
“O Brasil tem, atualmente, em lugar de política externa, uma liturgia de fanáticos de extrema-direita. Convertido em pária internacional, o país se vê em dificuldades para negociar acordos que acelerem a aquisição de vacinas”, afirmou.
A expectativa é que a saída de Araújo do governo seja oficializada ainda hoje pelo presidente Jair Bolsonaro, que deve aproveitar para anunciar mudança em outros cinco ministérios, além do Itamaraty: Defesa, Justiça, Casa Civil, Secretaria de Governo e Advocacia Geral da União (AGU).
Diante da desastrosa atuação do chanceler, especialmente ao longo da pandemia, a cúpula do Congresso Nacional, generais próximos a Bolsonaro, empresários e lideranças do agronegócio se uniram nas últimas semanas pela derrubada do ministro, que não suportou a pressão.
Ao assumir o cargo, Araújo era um desconhecido diplomata brasileiro que prometeu alinhar o Ministério aos anseios do presidente, e assim ele trabalhou.
Desde o início de sua gestão, em janeiro de 2019, o Itamaraty vem enfrentando uma ‘revolução conservadora’. Já em seu discurso de posse, Araújo deixou claro seu alinhamento ideológico ao do presidente: “Bolsonaro está libertando o Brasil por meio da verdade. Nós vamos também libertar a política externa e libertar o Itamaraty como o presidente Bolsonaro prometeu que faríamos em seu discurso de vitória”, declarou.
Antes da pandemia, a atuação questionável do ministro foi marcada por episódios como o rompimento com votos históricos do país na ONU, como a quebra do posicionamento tradicional do Brasil contra o embargo norte-americano a Cuba.
Em 2020, Ernesto Araújo foi incapaz de construir um diálogo com o John Biden, novo presidente dos Estados Unidos, já que a política externa do Brasil havia sido alinhada ao governo do derrotado Donald Trump. Bolsonaro foi um dos últimos chefes de Estado a cumprimentar Biden pela vitória.
No episódio da invasão do Capitólio, o chanceler demonstrou, em uma série de posts publicados em sua conta no Twitter, certa simpatia aos invasores e em nenhum momento responsabilizou Trump, que incitou os violentos protestos que resultaram na morte de quatro pessoas. As declarações provocaram reações de altos representantes do Partido Democrata.
Antagonismo com a China
Ainda em 2019, Ernesto declarou que o Brasil queria “vender soja e minério de ferro, mas não iria vender sua alma” em referência às vendas do país à China. A relação com Pequim nunca foi tranquila, mas atingiu níveis preocupantes com a pandemia do coronavírus.
Desde o bate-boca nas redes sociais em novembro de 2020, entre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, em que Ernesto saiu em defesa do filho do presidente, o ministro rompeu relações com a missão chinesa em Brasília. O resultado no rompimento da comunicação foi sentido quando o fornecimento de insumos para as vacinas Coronavac e AstraZeneca foi ameaçado por atrasos na exportação de lotes vindos da China.
“O ministro mais atrapalhou do que ajudou: foram decisões erradas todos os dias. Uma das piores foi brigar com o mundo, acabar com a nossa reputação e, com isso, colocar o Brasil em último na fila da vacina. Estamos de olho no próximo chanceler!”, informou o líder da oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ)
A saída de Ernesto é vista como mais um golpe na ala ideológica do bolsonarismo. Admirador do filósofo Olavo de Carvalho, ícone da nova direita brasileira e guru intelectual de Bolsonaro, Araújo o considera um dos principais responsáveis “pela imensa transformação que o Brasil está vivendo.”
Com a saída de Araújo, o Palácio do Planalto gostaria de nomear outro diplomata para o cargo. O nome mais cotado é de Luís Fernando Serra, embaixador que está na França.
Ao comentar a saída de Ernesto, o líder do PSB na Câmara, deputado Danilo Cabral (PSB-PE), afirmou que o Brasil precisa na verdade de um novo líder: “A mudança de ministros não significa mudança na condução da política. Foi assim na troca do Weintraub e Pazuello. Enquanto não trocarmos o Presidente, estaremos trocando seis por meia dúzia”.