Nos poucos mais de 30 anos recentes de democracia, o país perdeu a oportunidade de superar as suas maiores dificuldades por eleger líderes, seja de esquerda ou de direita, que se preocuparam mais em atender a interesses das classes mais ricas e do setor financeiro do que trabalhar pela diminuição das profundas desigualdades, afirmou o vice-presidente de relações governamentais do PSB e ex-deputado federal, Beto Albuquerque, nessa quarta-feira (3), durante o #Paposocialista.
Para Albuquerque, a eleição de “salvadores da pátria” é um dos grandes problemas enfrentados no mundo, e na América Latina, em especial, o que põe à prova a própria liberdade e a democracia. “As nossas escolhas não estão sendo feitas em cima de projetos”, criticou. Mediado por Martiniano Cavalcante, o bate-papo que discutiu “Democracia em crise, golpe ou resgate da utopia” contou com a participação também do professor do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Bracarense. O encontro foi transmitido ao vivo pela página oficial do PSB no Facebook.
Em uma crítica aos governos do PT, Beto Albuquerque disse que a esquerda teve “a faca e o queijo” na mão para fazer as grandes transformações de que o país tanto necessita. Mas, ao contrário, incentivou a formação de grandes conglomerados empresariais e insistiu em dividir a riqueza do país com os bancos e com o sistema financeiro, além de ter feito alianças com os velhos políticos que estão mais preocupados com seus próprios projetos de poder. Não inovou, portanto.
Um dos resultados da decepção com os rumos que a gestão petista tomou foi a eleição de um governo antidemocrático que promove profundos retrocessos. O país viu ascender ao poder um político personalista que provoca diariamente a divisão da sociedade, cria clima ‘virulento’ nas redes sociais, na convivência social e nas famílias, e divide até na gestão de uma pandemia sem precedentes na história, comentou. “A nossa democracia está ameaçada por uma soma de razões, mas nós não podemos e não ficaremos inertes. É necessário enfrentarmos essa polarização”, defendeu.
Em sua fala, o socialista criticou a ampla participação de militares no atual governo. Para Beto Albuquerque, os mais de 4 mil oficiais que ocupam cargos no alto escalão do Executivo “é a negação do papel das Forças Armadas”. “As Forças Armadas não têm como dever constitucional governar. As Forças Armadas têm que proteger a nação brasileira, o seu território. Tem que estar lá nas fronteiras no combate ao tráfico de drogas, ao roubo de cargas, ao tráfico de armas e não nos gabinetes da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Não é essa a função das Forças Armadas”, afirmou.
Na opinião de Albuquerque, que está no PSB há mais de 30 anos, a despeito da intervenção militar defendida pelos bolsonaristas, o momento atual é muito diferente do golpe de 1964. Naquela época, a imprensa também acreditava no fantasma de um projeto comunista no país e o golpe foi apoiado com base nesse temor. A população era menor e o efetivo das Forças Armadas, maior. Hoje, 70% (da população) querem que o país continue sendo uma democracia, ponderou.
“Hoje temos as redes sociais, desvirtuadas por alguns com fake news, mentiras e agressões. Mas nós temos redes sociais, temos outros caminhos para dialogar que não aqueles que haviam em 64”, disse. “O caminho nosso é único, é a democracia. E qualquer um que venha atrapalhar a democracia tem que ser enfrentado, contestado e efetivamente atacado nos argumentos e nas ideias”, afirmou.
Para o professor da UFPR, Paulo Bracarense, as forças democráticas devem “disputar corações e mentes” dos que foram levados “a ilusão da solução fácil pelo atalho”. “O combate ético se impõe. Precisamos nos organizar para disputar os espaços mediáticos sem, no entanto, recorrer à prática falaciosa das fake news e dos robôs. Não se pode combater a violência com mais violência”, defendeu.
Ele acredita que os espaços democráticos estão se fechando dia após dia e que a democracia está em risco. “As forças de segurança estão facistizadas. Acariciam manifestantes ilegais que bradam pela ditadura enquanto perseguem manifestações pacíficas contra a implementação de uma nova ditadura em nosso país”, criticou.
Na opinião do professor, o país vive momentos sombrios que exigem um olhar atento à expansão do ideário neo-facista e antidemocrático pelo mundo. Ele citou como exemplo a ascensão ao poder de líderes como Donald Trump, nos Estados Unidos, Boris Johnson na Inglaterra, Viktor Urban na Hungria, Erdogan na Turquia.
A Turquia, por exemplo, vivia momentos de instabilidade política e econômica e sofria com casos de corrupção no meio político. A população, ‘furiosa’, elegeu Edorgan como uma forma de punir todo o sistema político. “Edorgan foi o porta-voz dessa insatisfação e recebeu um poderoso mandato para governar o país e limpar o sistema político corrompido”, disse.
“Foi bem acolhido no mundo dos negócios por defender políticas neo-liberais. Ele desprezava a esquerda, os judeus, as feministas e os homossexuais. Alçado ao poder, mostrou que não era nem liberal nem democrata”, disse Bracarense.
Assessoria de Comunicação/PSB nacional